quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A capoeira, a galinha e os galifões

Ainda não li o relatório do FMI, nem sei se o vou ler -provavelmente, nem sequer vou já ler a Eneida!, como um dia constatou um conhecido escritor. Obviamente, não há ali nenhum comando legal, trata-se apenas de sugestões desagradáveis que, por o serem, teremos muito provavelmente de descartar. Mas... calma! Calma!, ainda temos do nosso lado dois activos muito relevantes, os quais, parecendo isto um truísmo, podem fazer toda a diferença face a um pessimismo que parece teimar em instalar-se: temos os portugueses e estamos vivos. E se acaso parece que é pouco, alguma observação histórica mostra-nos que, apesar de tudo, hoje estamos melhor do que há cem anos, ou quarenta. Pois além das condições materiais em que agora vivemos, temos uma vantagem de relevo: o conhecimento e a facilidade de o obter, que nos permite estarmos mais atentos e conscientes do mundo e das oportunidades que se nos oferecem. A guerra está mais longe do que então; o medo é hoje mais facilmente debelável; e as redes de entreajuda mais eficazes -desde, claro, que não enterremos a cabeça na areia. Ler o tal relatório do FMI é, por isso, mais fácil também. Do que temos de tratar, com alguma urgência, é do nosso auto-governo: para que não nos imponham reformas ortográficas patetas, ou para que não seja possível um qualquer andar para aí a vender o que nos pertence e nos faz falta (a rádio e a televisão públicas, por exemplo). E isto lembra-me a história do homem a quem roubaram uma galinha e a quem convidaram, depois, para uma patuscada de galinha assada, pagando. Têm-nos oferecido tanta galinha!, sobretudo nas vésperas de eleições... Temos andado a pagar tanto, por tanta patuscada, que talvez haja chegado o momento oportuno para tomarmos finalmente o governo da capoeira. E então, quem sabe se o pessimismo não se renovará afinal em esperança?...